domingo, 30 de dezembro de 2007

FORMAÇÃO E MUDANÇA NO CAMPO DA SAÚDE

CANÁRIO, Rui

Tem 59 anos é de Lisboa, Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1974), Doutorado em Ciências da Educação pela Universidade de Bordéus II (1987), Domínio de investigação actual: A educação e o local. Investigador responsável do projecto ESTER (Escolas e territórios), financiado pela Fundação Ciência e Tecnologia. Domínios de ensino: Formação de adultos e sociologia da educação. Responsável pelo curso de mestrado na área de especialização de Formação de Adultos. Actividades de ensino, por convite, nas seguintes universidades: Universidade Nova de Lisboa, Universidade Aberta, Universidade do Porto, Universidade de Évora, Universidade dos Açores, Universidade do Estado de S. Paulo (Brasil), Universidades de Estrasburgo e de Rouen (França).

No texto agora em analise o autor leva-nos a reflectir sobre a formação em contexto laboral nomeadamente no seio das organizações de saúde.
Destaco que esta reflexão foi apresentada em Janeiro de 1996 na Escola Superior de Enfermagem Bissaya Barreto (ano e escola da minha formatura), mas à qual não assisti.
Numa abordagem histórica da formação nas instituições de saúde o autor destaca o papel desempenhado pelos departamentos de educação permanente dos Hospitais.

Contudo todo o texto é orientado para uma NOVA PERSPECTIVA DA FORMAÇÂO. Uma formação assente nas práticas, na relação, na qualidade e numa territorialidade perfeitamente circunscrita ao espaço de acção dos cuidados.

Somos alertados para deixar um modelo de formação descontextualizado, que vise só a produtividade e quantidade. Neste sentido refere “a situação de trabalho aparece, neste caso, como uma situação social (que comporta uma dimensão técnica) e o enfermeiro como um profissional da relação em que as vertentes pessoal e profissional e as dimensões social e técnicas não são dissociareis” pág. 130.

É frisado na pág. 131 o perigo existente na dicotomia entre os saberes, “o saber das faculdades e o saber dos Hospitais”. Algo indissociável.

O autor dá-nos um exemplo prático de um programa que funcionando em rede e assente no conhecimento das realidades práticas, assente na multidisciplinaridade cresceu e se implantou na população. O exemplo de “Fareginhas” pág. 133.

Resume este projecto dizendo “…a valorização dos conhecimentos e experiências dos participantes e na aceitação de que o desenvolvimento do projecto corresponde a processo conjunto de aprendizagem que engloba os elementos da comunidade local e os intervenientes exteriores” pág 134.

O autor percorre ainda mais alguns conceitos baseados em estudos com profissionais de saúde, dos quais destaco:

-A importância de reequacionar à formação inicial para ela não ser considerada, como é em muitos estudos, ineficaz. O autor cita Boterf pág. 139 “…as competências são emergentes dos contextos de acção profissional….”

-A importância de dar outra dimensão organizacional às instituições de saúde, menos tarefeiras e mais geradoras de comportamentos e acções colectivas.

- A importância da valorização da autoformação no desenvolvimento profissional dos trabalhadores. O que sei ser hoje uma preocupação das estruturas sindicais da profissão no que concerne a revisão da Carreira de Enfermagem.

Rui Canário fez-me reflectir mais uma vez sobre estratégias formativas que visem a mudança. Identifiquei-me em parte com a noção de ineficácia da formação inicial. Quantas vezes nos disseram “isto não é assim que se faz nos serviços”, constatei também eu que o mundo laboral é muito diferente dos conceitos e conteúdos transmitidos ao longo do trajecto formativo inicial. Como já disse no texto anterior julgo que este problema se vai esbatendo com a aproximação das escolas ao mundo laboral e do conceito de enfermeiro orientador de alunos em articulação com os objectivos da entidade formadora. Poderíamos ir mais longe se mais enfermeiros orientadores de alunos em estágio contribuíssem com os seus saberes durante o período mais teórico da formação inicial. Sendo esta teoria “partilhada” mais vezes nos “territórios da acção”.

No campo laboral destaco que o papel dos DEP´s e CF das Instituições, começam a não acompanhar a evolução, fomentando acções de formação muito generalistas que pouco aproveitam a realidade e os exemplos contextualizados da prática dos cuidados. O papel das políticas de saúde e organização das instituições também não é condicente com os objectivos formativos. Integrações cada vez mais curtas.

Para mim a grande esperança centra-se na formação realizada no “teatro das operações” “caso a caso”. A cada gesto, em cada momento do cuidar temos de ser seres reflexivos e geradores de momentos formativos em nós e nos outros. Será alguma vergonha reflectir e formar sobre o melhor posicionamento, junto do utente em causa e com um conjunto mais ou menos vasto de colegas? Para mim este é o NOSSO CAMINHO.

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