sábado, 5 de janeiro de 2008

NEM PRECISA QUE SE PUXE O LUSTRO DE TÃO BRILHANTE SER...

"...Há pessoas que não conseguem mudar porque aprenderam bem de mais a fazer as coisas erradamente. Chama-se por vezes a este fenómeno a "formação para a incapacidade"..."
REDDIN, B. (1990)

PAULA ALVES (Colega e Companheira)


"...Cada um de nós deve habituar-se a olhar com atenção, do lado de fora, para cada situação, a descrever exactamente essa situação e o que se passa e a interrogar-se, a questionar-se sobre a razão do seu agir e do que resulta desse agir. Após isto repensa, perspectiva de maneira diferente, “vê com outros olhos”. Se isto for feito em equipa, em conjunto, no nosso local de trabalho, gera um ambiente formador. Gera um ambiente facilitador de partilha de ideias e de perspectivas diferentes. Conduz à resolução das questões, dúvidas, conflitos, problemas que verdadeiramente importam e que realmente nos preocupam e conduz a um maior, mais rico e diversificado leque de soluções. Conduz-nos ao raciocínio adaptado a cada situação e não apenas ao raciocínio standard/padrão...." 2007

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

LOUCOS DE LISBOA



Aos anos que ouço esta música e remete-me sempre para o imaginário de um café bem pequeno que existe em frente da nossa escola.

Ao procurar uma música para quebrar o gelo dos textos, extensos, que tenho modestamente vertido neste blog, achei esta e logo me lembrei de um episódio bem recente passado com um ser humano internado num Hospital Psiquiatrico de Lisboa às 20h30m quando dizia ao porteiro "mandaram-me ir embora", o respectivo profissional respondeu "quem?", a utente retorquiu "ouço vozes que me dizem isso", de novo o profissional secamente disse "vá mas é para a cama que é onde já devia estar". Pergunto-me, será que os profissionais das Instituições de Saúde (independentemente da sua função) não deverão ter formação adequada para o lugar que desempenham e digo bem LUGAR. Porque para a função pode ter mas dentro daquele território algo de diferente seria necessário, nem que o resultado fosse o mesmo....Humanidade, doente mental é pessoa
....

REFLECTIR SOBRE O VIVIDO


APRENDER COM A EXPERIÊNCIA...ESCREVER HOJE AQUILO QUE NA ALTURA GRAVEI


Gostaria de poder aqui reflectir sobre 2 situações que me trouxeram ensinamentos significativos:

1 - A situação do D. criança de 3 anos, idade do meu sobrinho na altura, que após 45 minutos de manobras de reanimação foi declarada morta às 4h30m. De imediato me apressei a retirar tudo o que de invasivo a criança tinha para enviar a para a morgue. O sentimento de impotência e de falência de tudo aquilo que somos era uma constante em mim. Eis que tiro o tubo endotraqueal e o D. de 3 anos começa a apresentar um ou dois movimentos respiratórios. De imediato tudo o de invasivo começa e mais 40 minutos de massacre perante uma criança morta continua, na esperança de devolver algo perdido à já muito tempo. Volta-se a confirmar o óbito. No final da noite a Enfª especialista deu-me uma “aula” sobre reflexos, sobre estímulos, sobre como agir numa situação destas. Enfim aprendi a não lidar com a ilusão de algo que todos queríamos que existisse mas que à muito já tinha acabado – a vida daquela criança que podia ser o meu sobrinho. Hoje sei que nunca se procede a determinadas manobras antes de um corpo morto arrefecer. Nomeadamente de uma criança. Já lá vão mais de 10 anos.


2 - Como nem tudo é "mau" poderei falar do M. jovem tetraplégico de 20 anos que um dia quando eu perguntava aos meus colegas o que queriam para o jantar, encomendado do restaurante do lado, e porque o tinha feito na unidade alto e bom som, como se ninguém ouvisse, o M. estalou os dentes, único gesto que conseguia para chamar a atenção. Aproximei-me e tapei-lhe a traqueotomia e ele disse “ para mim é Bacalhau com Natas”. A discussão na Equipa foi mais que muita. Uns pelo dinheiro, outros porque os doentes têm dieta própria, outra por uma possível intoxicação alimentar, etc, etc, etc….. O certo é que a equipa reflectiu, ponderou, avaliou, considerou e o M. nesse dia comeu Bacalhau com Natas ainda hoje tenho dúvidas se fizemos bem, mas REFLECTIMOS, mas não tenho dúvidas que o M. ficou feliz e nada de grave aconteceu, caso acontecesse cá estaria para responder pela felicidade de um jovem doente. E espero bem que por uma decisão que ainda que não unânime, foi maioritária numa equipa que ponderou, “discutiu” e decidiu. Também aqui, já lá vão mais de 10 anos

A RODA E O REGISTRO, UMA PARCERIA ENTRE PROFESSOR, ALUNOS E CONNHECIMENTO




WARSCHUER, Cecília (1993)

Cecília Warschuer é brasileira e doutorada, dá aulas na universidade de S. Paulo

Neste texto a autora afirma-se apaixonada pelo mundo e dedicada a educação. A roda e o registro, uma parceria entre professor, alunos e conhecimento é uma das suas obras mais conhecidas e traduzidas.

A autora começa por algo aparentemente simples quando refere que registrar é deixar marcas pág 61., mas essencialmente marcas que traduzem vida que traduzem experiências.

Da sua própria experiência a autora refere-nos dois tipos de registo um individual a que chama diário e outro colectivo. Valorizando o diário como a bengala que aproxima teoria e prática pedagógica.

Como Loreto nos dizia, esta autora também entende o registo como uma reconstrução que proporciona condições especiais para o acto de reflectir pág 61. A autora disseca ainda sobre a sua experiência de professora revelando que para ela um diário poderá ter várias vertentes, referindo o sujeito, a realidade, as necessidades, o relacionamento e às rotinas. Tal qual o poderíamos fazer na nossa profissão.

Destaco como curiosidade a diferença que a autora revela entre os seus diários quando começou a trabalhar e mais tarde. Na primeira situação muito factual na segunda mais reflexiva e pensativa.

Como outros autores nos foram referindo ao longo deste trajecto reflexivo também para a autora deste texto registar é a partir das vivências do papel , adquirir certa distância delas, necessária para o acto reflexivo pág 62. Ou seja a importância de ver as coisas de fora, algo que já vou conseguindo fazer cada vez mais no meu dia a dia pessoal e profissional.

O registo segundo a autora, foge de uma lógica repetitiva e mecânica para ajudar a construir uma memória compreensiva.

Logo chegamos a conclusão que o diário estimula a memória compreensiva servindo de impulso a ligação entre teoria e prática. Reconheço que na Enfermagem os nossos registos de enfermagem nem sempre desempenham este papel.

Logo o diário tem uma continuidade e um caminho de futuro beneficiando formandos e formadores segundo a autora.

Construímos um futuro com base numa prática reflexiva onde dúvidas e incertezas estão presentes no sentido da criação.

A autora remete-nos para um diário simples e muito oralizado, continuando a referir a sua experiência. Julgo que deveríamos enveredar pelo mesmo. Sair dos serviços pegar numa caneta e a ainda que mal, e a pressa pudéssemos registar algo que contribuísse para o futuro e para a mudança.

Como em textos anteriores vimos, a autora refere a escrita como algo perigoso que nos coloca em confronto connosco, mas naturalmente nos promove o crescimento.

A autora termina o texto por nos dar um exemplo de como funcionava com os alunos e de certa forma como mudou o seu comportamento em crianças com base em jogos e reflexão. Daqui o nome de roda. Claro está roda de transmissão de conhecimentos.

Mais uma vez esta “Roda” aqui sugerida pela autora me leva para os momentos de reflexão no seio da equipa de enfermagem do meu serviço. Acções de formação, prestação de cuidados, passagem de turno….

O que me leva mais uma vez a questionar o tipo de registos que fazemos se são “primários”, meramente descritivos de situações ocorridas, ou se vão mais longe apontando caminhos orientadores e reflexões sobre o cuidar?

Ex 1: "O doente foi massajado e posicionado…… Dormiu por curtos períodos, por apresentar queixas álgicas…"

Ex 2: "O doente foi massajado e posicionado, devendo ser adoptado de futuro o decúbito lateral esquerdo de forma preferencial por o doente apresentar um melhor padrão respiratório….Doente dormiu por curtos períodos, podendo ser tentado de futuro que se faça aplicação de calor húmido nas zonas onde apresenta mais queixas álgicas, bem como massagem, para avaliar de um eventual melhor resultado sobre o sono…. "

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

FORMAÇÃO REFLEXIVA



ALARCÃO, Isabel


Isabel Alarcão, nascida a 9 de Março de 1940, em Coimbra, licenciou-se em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Mestre em Curriculum and Instruction que realizou na Universidade do Texas, em Austin, Estados Unidos da América, em 1974-75.
Na Universidade de Aveiro leccionou nos cursos de formação de professores de Línguas (1976). Mais tarde, rumou à Inglaterra para, na Universidade de Liverpool, realizar o seu doutoramento em Educação, grau que concluiu em 1981.
Tem desenvolvido intensa actividade pedagógica e científica em duas áreas que procurou interligar: didáctica e supervisão. Conhecem-se-lhe as posições e os vários escritos, comunicações e conferências que a tornaram uma referência como conceptualizadora do papel das didácticas específicas na formação de professores. Mas é também na área da Supervisão que o seu nome é conhecido no país e no estrangeiro. Em 1987 publicou, em colaboração com José Tavares, um livro pioneiro intitulado Supervisão da Prática Pedagógica. Uma Perspectiva de Desenvolvimento e Aprendizagem ( 2ª edição, revista e desenvolvida, em 2003).Introdutora, em Portugal, do pensamento de D. Schön sobre a formação dos profissionais reflexivos, transferiu a noção de professor reflexivo para a de escola reflexiva, tema que tem abordado nos últimos escritos.
Professora catedrática desde 1990, desempenhou cargos de gestão universitária de grande responsabilidade: Presidente da 1ª Comissão Coordenadora do CIFOP, Presidente do Conselho Científico da UA, Vice-Reitora e Reitora.
Integra, desde a sua criação (1993), a Unidade/Centro de Investigação Didáctica e Tecnologia Educativa na Formação de Formadores.


Este texto foi apresentado numa comunicação proferida pela autora na Escola Superior De Enfermagem de S. José de Cluny em 1998.

A autora leva-nos a reflectir sobre a formação assente num processo dinâmico que é a aprendizagem experiêncial.

Começa por referir algo que podemos achar como algo digno do Sr. Lapalice mas que é de uma profundidade com consequências complexas: O Enfermeiro é um profissional “alguém a quem a sociedade tem o direito de exigir competência e pedir responsabilidade” pág. 53, quanto a mim além de ser uma boa definição de profissão é também uma definição de maioridade profissional que visa profissionais responsáveis e só assim autónomos. Logo de seguida reflecte sobre o enfermeiro profissional competente, assente na dicotomia conhecimento /capacidade, ou seja “ capacidade global da pessoa manifestada na acção e na situação” pág. 54, logo o enfermeiro para além do seu conhecimento profissional terá que utilizar um conhecimento fruto da experiência derivado de situações concretas e actualizado a cada nova situação, ou seja em desenvolvimento permanente. Daqui sermos uma profissão em constante mudança e adaptação, só assim transformaremos.

Este é então o mote necessário para formação reflexiva, para a construção de uma pessoalidade e profissionalidade com base na “interacção entre a pessoa e a situação”, “ aí se intrepenetra percepção e intuição, sentimento e raciocínio, imaginação e memória” pág. 55. É no cruzamento destas vertentes que poderemos com base em cada situação reflectir e construir um conhecimento e uma aprendizagem cíclica. “ a experiência é transformada em conceitos que, por sua vez, servem de guias para novas experiências” pág. 56.
Como exemplo bem recente disto tiro a comunicação da morte de um doente aos seus familiares, ontem ocorrida comigo e que me levou a sair do serviço e a reflectir sobre a forma e o local como o fiz, esta experiência que já não vivenciava a mais de 8 anos deu-me sem dúvidas aportes para uma nova situação que venha a vivenciar. Ou seja reflecti sobre a experiência projectando desde já ensinamentos para novas situações.

Esta é a base daquilo que a autora chama aprendizagem experiencial, “ a experiência é na realidade uma experimentação” pág. 56 algo diferente da formação pelas experiências de vida onde a “experiência constitui pelo contrário o laço de união entre a pessoa e a cultura” pág. 56.

A reflexão sobre as experiências é sem dúvida importante desde que consigamos interpretar essa experiência e conceptualizar o seu significado.

Citando Dewey a autora refere os princípios validadores da experiência como aprendizagem pág. 57:

1. Principio da significação – fazer sentido
2. Principio da continuidade – continuo entre o que aconteceu e vai acontecer
3. Principio da organização – as experiências não podem ficar a deriva
4. Principio do desenvolvimento e da aprendizagem – gera a possibilidade de novas experiências
5. Principio da qualidade – positiva e motivadora
6. Principio da reflexão – multiplicidade de factores
7. Principio da interacção social – comunicação com os outros
8. Principio da educação – conduz a educação
9. Principio da formação holística –a globalidade da pessoa constrói-se das experiências


A autora apresenta ainda o que chama segundo Handal e Lauvás teoria prática “ um sistema integrado, em permanente evolução, de conhecimentos, experiências e valores próprios de cada um e por este considerados relevantes para a sua profissão” pág. 58.

Este conceito funde num processo dinâmico e mutável sustentado nas experiências duas noções habitualmente dicotomizadas teoria e prática, fundamentando que as profissões são exercidas a 3 níveis, o nível 1 o da acção, o nível 2 da reflexão sobre as experiências e o nível da reflexão ética e da decisão moral.

A autora termina enfatizando o papel dos grupos na formação reflexiva.

Lembrando ainda Paulo Freire sugere aos Enfermeiros, (assim quis eu entender) uma atitude crítica e questionadora.

AGOSTINHO DA SILVA - PEDAGOGIA, UNIVERSIDADE E TRABALHO



AGOSTINHO DA SILVA - INSTRUIR E EDUCAR

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Na tua leveza de pássaro branco

Hoje vejo-te vigilante
envolta em efervescências de éter
à volta dos doentes,
presos à fatalidade estática
das pernas engessadas
aflitivamente imóveis e penduradas
numa rigidez de cabos e roldanas.
Entre as camas alinhadas
percorres na tua leveza de pássaro branco
os corredores lisos e brilhantes
e avalias com precisão cirúrgica
o espaço ocupado
pela dor e pelo sofrimento
contendo os gritos
e os incontidos apelos
dos corpos rasgados
que não aceitam
aquele destino.
e já não te incomoda
o cheiro intenso do clorofórmio
nem aquela luz baça
da hora do silêncio
a iluminar penumbras.
Velas pela noite dentro
diligente e branca
e regressas à tua paz
onde deitas o sono solto e interrompido
até que a manhã chegue
com o teu cansaço.

Alexandre de Castro

Um amigo, um comunicador, um jornalista, um poeta, um Homem que “aproveitou” a largura de fronteiras editoriais deste blogue, que se quer de reflexão e de momentos belos como este, para dedicar este seu poema às enfermeiras. O meu sincero, fraterno e solidário abraço em nome delas, ou por outra em nosso nome. Obrigado Alexandre de Castro.Rui Santos

PARA REFLECTIR ... OU AGIR ?

"...Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão..."

Paulo Freire

AUTOTRANSFORMAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DAS PRÁTICAS PROFISSIONAIS DOS PROFESSORES


COUCEIRO, Maria do Loreto Paiva

Maria do Loreto Paiva Couceiro tem o Doutoramento em Ciências de Educação (Dezembro de 2000). Especialidade "Educação e Desenvolvimento" na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT/UNL) e na Universidade François Rabelais, Tours (França). Investigadora da Unidade de Investigação Educação e Desenvolvimento (UIED), da FCT/UNL, sendo coordenadora do Sub-Programa "Autoformação e formação experiencial", desde 2001. Docente no Cursos de Mestrado "Educação e Desenvolvimento" da FCT e colaboradora do Mestrado"Formação de adultos" da FPCE da Universidade de Lisboa, sendo orientadora de dissertações de Mestrado e doutoramento. Foi co-responsável pela concepção, organização e execução do Mestrado "Formação e Desenvolvimento Sustentável", realizado no Brasil, no âmbito de uma Convenção entre a Universidade Nova de Lisboa e a Université François Rabelais de Tours, 2002- 2004. No âmbito da Profissionalização em Serviço foi Orientadora Pedagógica e responsável pelo Módulo "Desenvolvimento Curricular" na FCTUNL.O artigo agora em análise "Autoformação e transformação das práticas profissionais dos professores", in Revista de Educação do Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, 1998, Vol VII, n.º 2.Outros Projectos que destaco Orientação conjuntamente com a Professora Marta Lima Basto (1ª Doutorada Enfermeira em Portugal) no Doutoramento de Maria Manuela Soveral com o tema - Escrita e Formação - O registo sobre o cuidar como mediador das transformação das práticas Profissionais


Neste texto a autora procura reflectir sobre a mudança e a transformação na dicotomia formação/exercício. Leva-nos assim por uma questão bastante actual e que a meu ver vem ao encontro do quotidiano dos Enfermeiros. “Como aprofundar e transformar as nossas práticas e o nosso quotidiano agir pedagógico”, pág 53., como resposta simples e imediata “passa por ir dando lugar à perspectiva que promove uma outra relação permanentemente interactiva, entre teoria e prática”Pág 53.

Ou seja estaremos perante um outro paradigma para a formação. Aqui a autora citando Mezirow, 1996 refere-nos 3 paradigmas. O paradigma Objectivista baseado no comportamento como adaptação directa das aprendizagens efectuadas, Um segundo paradigma baseado no homem numa concepção mais vasta levando em linha de conta experiências e os próprios contextos em que as situações surgem e um terceiro paradigma quanto a mim mais interessante e mais promotor da mudança e transformação, o paradigma emancipatório “a aprendizagem ocorre na medida em se apreendem, se fundamentam e se transformam perspectivas e esquemas de significação.” Pág 54.

Este terceiro paradigma está na base da teoria da transformação onde o diálogo é fundamental tendo em conta “intersubjectividade, solidariedade e o processo de reflexão crítica” pág 55 também aqui a autora me fez reflectir sobre alguns diálogos no serviço que mais do que tentarem ser momentos de chegada a uma plataforma de consenso que vise a mudança são momentos para avaliar quem ganha e quem perde. Quem tem ou não tem razão e que na prática nos leva a que cada um continue a fazer o mesmo da mesma forma.

Todo este processo tem que levar em linha de conta, como nos refere a autora a reflexão sobre as práticas, a experiências das pessoas e no nosso caso dos Enfermeiros será fundamental para a construção do conhecimento tal qual estaremos a fazer ao longo deste ano de CCFE.

Para tal reflectir sobre práticas é antes de mais um processo com fases de onde destaco a observação “…não é conhecer…trata-se antes de reconhecer”, pág 56, a análise “desconstruir com vista a reconstruir” “pensar de novo “ pag 56 e reperpectivação. Depois de observar e analisar perspectivar como faremos como transformamos.

A autora toca ainda num aspecto fundamental em todo este processo de reflexão para a mudança e que nós enfermeiros o utilizamos diariamente, com significativos, ainda que lentos progressos a meu ver – a escrita. Esta “auxilia a observação e a reflexão porque a partir das vivências expostas no papel, é possível adquirir certa distância delas, necessária ao acto reflexivo”pág 57. A autora refere ainda a escrita das situações experiênciadas como útil para o confronto e debate de pontos de vista, sendo um processo exigente que exige esforço, mobiliza energias e tempo e é geradora de desassossego útil para o confronto connosco próprios. Julgo que acima de tudo comecei hoje aqui a perceber melhor o que se pretende com o diário de aprendizagem que vai servir de avaliação a esta cadeira.

Por fim e como corolário de toda esta perspectiva a autora dá-nos o exemplo de um trabalho realizado com professores com vista a reflexão das suas práticas profissionais, onde estes tinham que registar as suas práticas profissionais. Estas seriam analisadas a luz de um triângulo pedagógico que tinham com vértices professor, aluno e saber e as suas inter relações. Algo que no nosso caso poderíamos e deveríamos analisar com um triângulo verticalizado em enfermeiro, utente, cuidado de enfermagem….e as suas inter-relações dimensão do cuidar, do ensino/saber e da aprendizagem/conhecimentos apreendidos.

Só com um processo assente na vivência e na reflexão das práticas auto transformamos e como acaba a autora “ o que fazemos contribui para o que somos e o que somos revela-se no que fazemos “ pág . 60

Neste texto destaco mesmo a importância da escrita para a consciencialização e mudança das práticas. Ao ler este texto decidi criar este blog para que pudéssemos despertar também aqui, nas novas tecnologias (net) para a nossa capacidade de reflectir sobre aquilo que nos inquieta perdendo alguns minutos a escrevê-lo (mesmo que sob anonimato, ainda que escusado). Se o conseguirmos fazer no mundo virtual, também o podemos e devemos fazer no nosso dia-a-dia.


Uma das coisas que no meu percurso profissional mais me indignou foi perguntarem-me se em dia de GREVE se escreviam registos de Enfermagem… Saberemos para que eles servem?

domingo, 30 de dezembro de 2007

EDUCAÇÃO DE ADULTOS: Um Campo e uma Problemática

CANÁRIO, Rui

Tem 59 anos é de Lisboa, Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1974), Doutorado em Ciências da Educação pela Universidade de Bordéus II (1987), Domínio de investigação actual: A educação e o local. Investigador responsável do projecto ESTER (Escolas e territórios), financiado pela Fundação Ciência e Tecnologia. Domínios de ensino: Formação de adultos e sociologia da educação. Responsável pelo curso de mestrado na área de especialização de Formação de Adultos. Actividades de ensino, por convite, nas seguintes universidades: Universidade Nova de Lisboa, Universidade Aberta, Universidade do Porto, Universidade de Évora, Universidade dos Açores, Universidade do Estado de S. Paulo (Brasil), Universidades de Estrasburgo e de Rouen (França).

Neste texto o autor enfatiza o papel da EXPERIÊNCIA no papel Formativo. “…a experiencia nos processos de aprendizagem supõe que esta é encarada como um processo interno ao sujeito e que corresponde, ao longo da sua vida, ao processo da sua auto-construção como pessoa” pág. 109.

No entanto para que este enfoque seja possível de existir terão de existir 2 premissas fundamentais:

1 – Criação de um sentido citando Barth “aprender significa atribuir um sentido a uma realidade complexa e essa construção de sentido é feita a partir da história “cognitiva, afectiva e social de cada sujeito” pág. 110.

2 – Mobilização do sujeito para a autoproduzir a sua vida, o sujeito é um recurso de si próprio.
Direi que sendo o Curso de Complemento de Formação um momento privilegiado de reflexão e análise de práticas profissionais e logo um momento formativo de adultos, por excelência, deveria ser realizado quando cada sujeito incorpora-se cabalmente estas 2 premissas.

É partindo desta ideia chave que o autor nos fala da ruptura entre um modelo decadente de formação de adultos modelo “da aplicação da teoria na pratica”, para o modelo agora aqui preconizado na formação de adultos o modelo “dos saberes adquiridos por via experiencial” pág. 111.

Este modelo fica sintetizado de uma forma coerente e dinâmica na pág. 112 “ A prática do reconhecimento dos adquiridos experienciais, tem como fundamento não apenas, nem sobretudo, a comulatividade das experiências vividas, mas a capacidade do sujeito para as tirar e reelaborar, integrando-as como saberes susceptíveis de serem transferidos para outras situações, integrando-as na unidade global que representa o processo de autoconstrução da pessoa” pág.112

É neste sentido que o autor critica de forma prepositiva o actual, e bem nosso conhecido, modelo de formação contínua, assente em questionários sobre necessidades formativas (lacunas), potenciador de resultados incertos e que descontextualiza os indivíduos da “sua inserção social em situações concretas de trabalho e vida social” pág. 114. Digo que é prepositivo porque sugere um modelo “de uma oferta formativa, aparece, então, como uma construção social que implica um confronto de pontos de vista entre o pólo dos formadores, o pólos dos formandos e o pólo dos que encomendam a formação. É este confronto que conduz a problematizar situações e a produzir objectivos de formação, correspondendo a uma prática social, desejavelmente contextualizada e capaz de integrar a experiência e os adquiridos dos destinatários da oferta formativa.” Págs 115 e 116.

Com este texto somos remetidos para algo verdadeiramente compreensível, o potenciar da experiência como momento formativo. Mas se fossemos responsáveis da formação no nosso serviço como fugiríamos ao modelo dos inquéritos sobre necessidades para passarmos ao planeamento da formação tendo por base a contextualização e integração da experiência e dos adquiridos?

FORMAÇÃO E MUDANÇA NO CAMPO DA SAÚDE

CANÁRIO, Rui

Tem 59 anos é de Lisboa, Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1974), Doutorado em Ciências da Educação pela Universidade de Bordéus II (1987), Domínio de investigação actual: A educação e o local. Investigador responsável do projecto ESTER (Escolas e territórios), financiado pela Fundação Ciência e Tecnologia. Domínios de ensino: Formação de adultos e sociologia da educação. Responsável pelo curso de mestrado na área de especialização de Formação de Adultos. Actividades de ensino, por convite, nas seguintes universidades: Universidade Nova de Lisboa, Universidade Aberta, Universidade do Porto, Universidade de Évora, Universidade dos Açores, Universidade do Estado de S. Paulo (Brasil), Universidades de Estrasburgo e de Rouen (França).

No texto agora em analise o autor leva-nos a reflectir sobre a formação em contexto laboral nomeadamente no seio das organizações de saúde.
Destaco que esta reflexão foi apresentada em Janeiro de 1996 na Escola Superior de Enfermagem Bissaya Barreto (ano e escola da minha formatura), mas à qual não assisti.
Numa abordagem histórica da formação nas instituições de saúde o autor destaca o papel desempenhado pelos departamentos de educação permanente dos Hospitais.

Contudo todo o texto é orientado para uma NOVA PERSPECTIVA DA FORMAÇÂO. Uma formação assente nas práticas, na relação, na qualidade e numa territorialidade perfeitamente circunscrita ao espaço de acção dos cuidados.

Somos alertados para deixar um modelo de formação descontextualizado, que vise só a produtividade e quantidade. Neste sentido refere “a situação de trabalho aparece, neste caso, como uma situação social (que comporta uma dimensão técnica) e o enfermeiro como um profissional da relação em que as vertentes pessoal e profissional e as dimensões social e técnicas não são dissociareis” pág. 130.

É frisado na pág. 131 o perigo existente na dicotomia entre os saberes, “o saber das faculdades e o saber dos Hospitais”. Algo indissociável.

O autor dá-nos um exemplo prático de um programa que funcionando em rede e assente no conhecimento das realidades práticas, assente na multidisciplinaridade cresceu e se implantou na população. O exemplo de “Fareginhas” pág. 133.

Resume este projecto dizendo “…a valorização dos conhecimentos e experiências dos participantes e na aceitação de que o desenvolvimento do projecto corresponde a processo conjunto de aprendizagem que engloba os elementos da comunidade local e os intervenientes exteriores” pág 134.

O autor percorre ainda mais alguns conceitos baseados em estudos com profissionais de saúde, dos quais destaco:

-A importância de reequacionar à formação inicial para ela não ser considerada, como é em muitos estudos, ineficaz. O autor cita Boterf pág. 139 “…as competências são emergentes dos contextos de acção profissional….”

-A importância de dar outra dimensão organizacional às instituições de saúde, menos tarefeiras e mais geradoras de comportamentos e acções colectivas.

- A importância da valorização da autoformação no desenvolvimento profissional dos trabalhadores. O que sei ser hoje uma preocupação das estruturas sindicais da profissão no que concerne a revisão da Carreira de Enfermagem.

Rui Canário fez-me reflectir mais uma vez sobre estratégias formativas que visem a mudança. Identifiquei-me em parte com a noção de ineficácia da formação inicial. Quantas vezes nos disseram “isto não é assim que se faz nos serviços”, constatei também eu que o mundo laboral é muito diferente dos conceitos e conteúdos transmitidos ao longo do trajecto formativo inicial. Como já disse no texto anterior julgo que este problema se vai esbatendo com a aproximação das escolas ao mundo laboral e do conceito de enfermeiro orientador de alunos em articulação com os objectivos da entidade formadora. Poderíamos ir mais longe se mais enfermeiros orientadores de alunos em estágio contribuíssem com os seus saberes durante o período mais teórico da formação inicial. Sendo esta teoria “partilhada” mais vezes nos “territórios da acção”.

No campo laboral destaco que o papel dos DEP´s e CF das Instituições, começam a não acompanhar a evolução, fomentando acções de formação muito generalistas que pouco aproveitam a realidade e os exemplos contextualizados da prática dos cuidados. O papel das políticas de saúde e organização das instituições também não é condicente com os objectivos formativos. Integrações cada vez mais curtas.

Para mim a grande esperança centra-se na formação realizada no “teatro das operações” “caso a caso”. A cada gesto, em cada momento do cuidar temos de ser seres reflexivos e geradores de momentos formativos em nós e nos outros. Será alguma vergonha reflectir e formar sobre o melhor posicionamento, junto do utente em causa e com um conjunto mais ou menos vasto de colegas? Para mim este é o NOSSO CAMINHO.

A FORMAÇÃO TEM DE PASSAR POR AQUI

NÓVOA, António

1986 - Doutoramento em Ciências da Educação na Universidade de Genebra.1994 - Agregação em Ciências da Educação na Universidade de Lisboa.- Professor Auxiliar (1986-1990), Professor Associado (1991-1995) e Professor Catedrático (desde 1996) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa.- Assistente ou Professor Convidado, por períodos longos, das Universidades de Genebra (1982/1983), de Wisconsin-Madison (1993/1994) e de Paris V (1995).- Professor Convidado, por períodos curtos, das Universidades de Montreal, Strasbourg, Barcelona, Mons, A Coruña, Madrid, São Paulo, Federal do Rio de Janeiro, Federal de Mato Grosso do Sul, PUC-São Paulo, PUC-Rio de Janeiro,...- Presidente da Associação Internacional de História da Educação (ISCHE).- Presidente do Conselho Científico do Instituto de Inovação Educacional (1990-1993).- Coordenador e/ou vogal de vários painéis de avaliação científica, em Portugal e no estrangeiro (União Europeia, INRP, etc.), particularmente como responsável da área de Ciências da Educação na Comissão de especialidade das Ciências Sociais da JNICT (1995-1997).- Membro do Conselho Científico de Acompanhamento de Unidades de Investigação da Universidade do Minho (CEEP) e da Universidade do Porto (CESE), desde 1998.- Membro da Comissão Científica do Senado da Universidade de Lisboa, desde 1998.- Consultor para a Educação do Presidente da República (1996-1999).- Orientador (ou co-orientador) de 12 teses de doutoramentos e de cerca de 30 teses de mestrados, já concluídas.- Membro de mais de cem júris de provas de agregação, de doutoramento e de mestrado, em Universidades portuguesas e estrangeiras (Paris III, Paris V, Madrid, La Coruña, Palma, Genève, Strasbourg, São Paulo, etc.).- Áreas de especialização: História da Educação e Educação Comparada.

Neste texto o autor apresenta-nos uma perspectiva histórica evolutiva de alguns conceitos sobre educação de crianças e modelos formativos de adultos.
Desde os finais do Sec XVIII toda a Educação das sociedades ocidentais está ancorada no Modelo Escolar, ou seja, ao longo dos séculos as práticas formativas têm como pressuposto que “educar é preparar no presente para agir no futuro. O tempo de formação…surge, portanto, dissociado do tempo da acção” pág. 109.
O modelo escolar concebe uma dissociação entre estes dois momentos o tempo da aprendizagem com o tempo da sua aplicação, levantando uma questão quanto a mim interessante ainda nos dias de hoje “em que medida (e de que modo) as atitudes, as capacidades e os conhecimentos adquiridos durante a formação podem ser “mobilizados” numa situação real de trabalho?” pág. 110.

Julgo que será difícil formar um bom surfista na Serra da Estrela, ou um bom enfermeiro em contextos eminentemente teóricos. Naturalmente que com 12 anos de profissão sinto evidentes melhorias da aproximação dos alunos de Enfermagem aos contextos laborais, bem como da orientação conjunta entre docentes e enfermeiros dos citados alunos. Num claro caminho de combate a este modelo escolar, julgo que a Enfermagem em Portugal continua a trilhar um percurso que conduzirá a certificação de competências profissionais, onde saber e acção vão andar de mãos dadas. Só assim seremos sujeitos activos e interventivos e afirmativamente autónomos. “…. Não sendo abusivo afirmar que grande parte dos educadores actuais considera ainda que o seu trabalho consiste em….moldar cera mole”pág. 110. Julgo que nenhum de nós gosta de ser considerado “cera” e ainda por cima “mole”.

No entanto o autor revela-nos que no século XX existiram 3 movimentos de contestação ao paradigma Escolar:

1- Movimento Educação Nova – Anos 20
Realça o aprender fazendo, e o aprender a aprender. Estimula a criatividade e liga a escola à vida “incentivo à participação activa dos formandos no seu próprio processo de aprendizagem”pág. 111. Apesar de toda esta aparente, e direi eu, importante revolução existem para o autor 2 pilares que este movimento não decapitou do modelo escolar “a existência de um tempo para aprender e de um tempo para fazer, o encerramento das práticas educativas em espaços próprios” pág. 111.

2- Educação Permanente – Anos 70
Concebe o Homem como um ser inacabado em constante evolução visando a construção do saber ser. Este movimento rompe só em parte com o modelo escolar “pelo menos no plano dos princípios”, “Aprender é uma função da vida”, ”Qualquer pessoa, independentemente da sua idade, tem o direito de decidir o que aprender, como quando e onde” pág. 113, estes registos transportam-nos para uma lógica não diferenciadora da do modelo escolar no que concerne ao conceito escolástico de aprendizagem alargando-o sim a outros locais (esta a grande diferença).
O autor acentua a sua problematização desta questão dirigindo-se a nós próprios, profissionais de saúde. “Que potencialidades formadoras se podem desencadear no seio de um espaço hospitalar? Ou, como é que uma consulta se pode transformar num tempo de aprendizagem e de formação?” pág. 114

3- Histórias de vida ou método (auto)biográfico
Visa a construção de uma nova epistemologia da formação de adultos baseada nos seus próprios conhecimentos e experiências. Ainda se consubstancia como desafio

Da leitura deste texto retiro as profundas marcas do modelo escolar na sociedade actual, saberemos nós por exemplo aproveitar uma passagem de turno como espaço de reflexão/formação/acção? A minha opinião é que na maior parte das vezes não. Se a pressa, ou cansaço pode ser um argumento para que tal não possa ser feito neste espaço. Então qual ou quais as estratégias para no nosso dia-a-dia de prestadores de cuidados de Enfermagem sermos também seres eminentemente formativos?