quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

FORMAÇÃO REFLEXIVA



ALARCÃO, Isabel


Isabel Alarcão, nascida a 9 de Março de 1940, em Coimbra, licenciou-se em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Mestre em Curriculum and Instruction que realizou na Universidade do Texas, em Austin, Estados Unidos da América, em 1974-75.
Na Universidade de Aveiro leccionou nos cursos de formação de professores de Línguas (1976). Mais tarde, rumou à Inglaterra para, na Universidade de Liverpool, realizar o seu doutoramento em Educação, grau que concluiu em 1981.
Tem desenvolvido intensa actividade pedagógica e científica em duas áreas que procurou interligar: didáctica e supervisão. Conhecem-se-lhe as posições e os vários escritos, comunicações e conferências que a tornaram uma referência como conceptualizadora do papel das didácticas específicas na formação de professores. Mas é também na área da Supervisão que o seu nome é conhecido no país e no estrangeiro. Em 1987 publicou, em colaboração com José Tavares, um livro pioneiro intitulado Supervisão da Prática Pedagógica. Uma Perspectiva de Desenvolvimento e Aprendizagem ( 2ª edição, revista e desenvolvida, em 2003).Introdutora, em Portugal, do pensamento de D. Schön sobre a formação dos profissionais reflexivos, transferiu a noção de professor reflexivo para a de escola reflexiva, tema que tem abordado nos últimos escritos.
Professora catedrática desde 1990, desempenhou cargos de gestão universitária de grande responsabilidade: Presidente da 1ª Comissão Coordenadora do CIFOP, Presidente do Conselho Científico da UA, Vice-Reitora e Reitora.
Integra, desde a sua criação (1993), a Unidade/Centro de Investigação Didáctica e Tecnologia Educativa na Formação de Formadores.


Este texto foi apresentado numa comunicação proferida pela autora na Escola Superior De Enfermagem de S. José de Cluny em 1998.

A autora leva-nos a reflectir sobre a formação assente num processo dinâmico que é a aprendizagem experiêncial.

Começa por referir algo que podemos achar como algo digno do Sr. Lapalice mas que é de uma profundidade com consequências complexas: O Enfermeiro é um profissional “alguém a quem a sociedade tem o direito de exigir competência e pedir responsabilidade” pág. 53, quanto a mim além de ser uma boa definição de profissão é também uma definição de maioridade profissional que visa profissionais responsáveis e só assim autónomos. Logo de seguida reflecte sobre o enfermeiro profissional competente, assente na dicotomia conhecimento /capacidade, ou seja “ capacidade global da pessoa manifestada na acção e na situação” pág. 54, logo o enfermeiro para além do seu conhecimento profissional terá que utilizar um conhecimento fruto da experiência derivado de situações concretas e actualizado a cada nova situação, ou seja em desenvolvimento permanente. Daqui sermos uma profissão em constante mudança e adaptação, só assim transformaremos.

Este é então o mote necessário para formação reflexiva, para a construção de uma pessoalidade e profissionalidade com base na “interacção entre a pessoa e a situação”, “ aí se intrepenetra percepção e intuição, sentimento e raciocínio, imaginação e memória” pág. 55. É no cruzamento destas vertentes que poderemos com base em cada situação reflectir e construir um conhecimento e uma aprendizagem cíclica. “ a experiência é transformada em conceitos que, por sua vez, servem de guias para novas experiências” pág. 56.
Como exemplo bem recente disto tiro a comunicação da morte de um doente aos seus familiares, ontem ocorrida comigo e que me levou a sair do serviço e a reflectir sobre a forma e o local como o fiz, esta experiência que já não vivenciava a mais de 8 anos deu-me sem dúvidas aportes para uma nova situação que venha a vivenciar. Ou seja reflecti sobre a experiência projectando desde já ensinamentos para novas situações.

Esta é a base daquilo que a autora chama aprendizagem experiencial, “ a experiência é na realidade uma experimentação” pág. 56 algo diferente da formação pelas experiências de vida onde a “experiência constitui pelo contrário o laço de união entre a pessoa e a cultura” pág. 56.

A reflexão sobre as experiências é sem dúvida importante desde que consigamos interpretar essa experiência e conceptualizar o seu significado.

Citando Dewey a autora refere os princípios validadores da experiência como aprendizagem pág. 57:

1. Principio da significação – fazer sentido
2. Principio da continuidade – continuo entre o que aconteceu e vai acontecer
3. Principio da organização – as experiências não podem ficar a deriva
4. Principio do desenvolvimento e da aprendizagem – gera a possibilidade de novas experiências
5. Principio da qualidade – positiva e motivadora
6. Principio da reflexão – multiplicidade de factores
7. Principio da interacção social – comunicação com os outros
8. Principio da educação – conduz a educação
9. Principio da formação holística –a globalidade da pessoa constrói-se das experiências


A autora apresenta ainda o que chama segundo Handal e Lauvás teoria prática “ um sistema integrado, em permanente evolução, de conhecimentos, experiências e valores próprios de cada um e por este considerados relevantes para a sua profissão” pág. 58.

Este conceito funde num processo dinâmico e mutável sustentado nas experiências duas noções habitualmente dicotomizadas teoria e prática, fundamentando que as profissões são exercidas a 3 níveis, o nível 1 o da acção, o nível 2 da reflexão sobre as experiências e o nível da reflexão ética e da decisão moral.

A autora termina enfatizando o papel dos grupos na formação reflexiva.

Lembrando ainda Paulo Freire sugere aos Enfermeiros, (assim quis eu entender) uma atitude crítica e questionadora.

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