domingo, 20 de janeiro de 2008

EM CONTRACICLO COM OS ARAUTOS DA ENFERMAGEM EM PORTUGAL...


"... Ao longo deste livro evitamos a utilização da palavra "consumidor" ou "cliente" para descrever as pessoas de quem as enfermeiras cuidam. Esta escolha é deliberada. A palavra "consumidor", de acordo com o diccionário, possui dois significados. Um afirma que se trata de alguém que consome, gasta, desperdiça ou destrói. O outro, "alguém que utiliza bens e serviços para satisfazer as suas necessidades", pertence a economia. A primeira definição é negativa e a segunda é uma definição extremamente redutora e mercantilista dos seres em relação à doença e à saúde. Somos da opinião que deturpa gravemente a relação entre os prestadores de cuidados e as pessoas que procuram o seu cuidado e o seu conselho.

....Da perspectiva da comunicação pública, falar de enfermeiras em relação ao consumidor desvia a atenção do hospital, do lar, da clínica ou da clínica de cuidados terminais para o centro comercial, sugerindo que o seres humanos podem escolher saúde da mesma forma que escolhem um vestido novo e que podem, em consequência, exercer controlo quando menos são capazes de o fazer. Preferimos usar as palavras "ser humano", "individuo", "pessoa", "doente" e " família"...."

GORDON, Suzanne; BURESH, Bernice - DO SILÊNCIO À VOZ

Sem dúvida que o que importa é a qualidade dos cuidados..., no entanto, esta discussão é muito actual. Numa altura em que politicamente a Saúde é entendida como um bem mercantilizável e sujeita aos mesmos princípios que qualquer fabrica de enchidos, ou seja, encerram-se serviços quando não existe o número dos ditos "clientes" para darem lucro..... Talvez a melhor opção seja chamar ao ser humano, que cuidamos, de cliente.

Se por outro lado entendermos saúde como um bem Social e Essencial às pessoas, efectivamente, nos afastaremos dos novos arautos da Enfermagem e da Gestão e continuaremos a dar razão às autoras deste cintilante livro. E continuaremos a usar o termo ser humano.

A minha opção está feita e amanhã de manhã continuarei no meu serviço a cuidar dos seres humanos com necessidade de cuidados de Enfermagem.

Não sei se se recordam de o Srº Ministro (Correia de Campos), sobre aposentação, ter comparado os Enfermeiros com as Operárias Texteis. Todos ficaram chocados. O que me chocou não foi comparar profissões, foi mesmo o objecto delas. Eu, enquanto Enfermeiro, laboralmente não sou diferente da dita Operária. No entanto os seres humanos que cuido são muito diferentes dos tecidos "operados" pelas citadas Operárias. Daí ser contra a palavra Cliente ou Consumidor.

Nem tudo o que está na moda, para mim se deve usar. Apesar da comunuidade cientifica gostar muito da dita clientela.

Qualquer dia, enquanto seres humanos, vamos ao Hospital comprar 2 litros de soro, e meia dose de apoio emocional e já agora para sobremesa compram-se uns quilos de cuidados de higiéne e conforto regados com meia dúzia de mobilizações. Porque a dúzia pode ser muito cara.

1 comentário:

Anónimo disse...

Será que é qualquer dia ?