segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

AUTOTRANSFORMAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DAS PRÁTICAS PROFISSIONAIS DOS PROFESSORES


COUCEIRO, Maria do Loreto Paiva

Maria do Loreto Paiva Couceiro tem o Doutoramento em Ciências de Educação (Dezembro de 2000). Especialidade "Educação e Desenvolvimento" na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT/UNL) e na Universidade François Rabelais, Tours (França). Investigadora da Unidade de Investigação Educação e Desenvolvimento (UIED), da FCT/UNL, sendo coordenadora do Sub-Programa "Autoformação e formação experiencial", desde 2001. Docente no Cursos de Mestrado "Educação e Desenvolvimento" da FCT e colaboradora do Mestrado"Formação de adultos" da FPCE da Universidade de Lisboa, sendo orientadora de dissertações de Mestrado e doutoramento. Foi co-responsável pela concepção, organização e execução do Mestrado "Formação e Desenvolvimento Sustentável", realizado no Brasil, no âmbito de uma Convenção entre a Universidade Nova de Lisboa e a Université François Rabelais de Tours, 2002- 2004. No âmbito da Profissionalização em Serviço foi Orientadora Pedagógica e responsável pelo Módulo "Desenvolvimento Curricular" na FCTUNL.O artigo agora em análise "Autoformação e transformação das práticas profissionais dos professores", in Revista de Educação do Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, 1998, Vol VII, n.º 2.Outros Projectos que destaco Orientação conjuntamente com a Professora Marta Lima Basto (1ª Doutorada Enfermeira em Portugal) no Doutoramento de Maria Manuela Soveral com o tema - Escrita e Formação - O registo sobre o cuidar como mediador das transformação das práticas Profissionais


Neste texto a autora procura reflectir sobre a mudança e a transformação na dicotomia formação/exercício. Leva-nos assim por uma questão bastante actual e que a meu ver vem ao encontro do quotidiano dos Enfermeiros. “Como aprofundar e transformar as nossas práticas e o nosso quotidiano agir pedagógico”, pág 53., como resposta simples e imediata “passa por ir dando lugar à perspectiva que promove uma outra relação permanentemente interactiva, entre teoria e prática”Pág 53.

Ou seja estaremos perante um outro paradigma para a formação. Aqui a autora citando Mezirow, 1996 refere-nos 3 paradigmas. O paradigma Objectivista baseado no comportamento como adaptação directa das aprendizagens efectuadas, Um segundo paradigma baseado no homem numa concepção mais vasta levando em linha de conta experiências e os próprios contextos em que as situações surgem e um terceiro paradigma quanto a mim mais interessante e mais promotor da mudança e transformação, o paradigma emancipatório “a aprendizagem ocorre na medida em se apreendem, se fundamentam e se transformam perspectivas e esquemas de significação.” Pág 54.

Este terceiro paradigma está na base da teoria da transformação onde o diálogo é fundamental tendo em conta “intersubjectividade, solidariedade e o processo de reflexão crítica” pág 55 também aqui a autora me fez reflectir sobre alguns diálogos no serviço que mais do que tentarem ser momentos de chegada a uma plataforma de consenso que vise a mudança são momentos para avaliar quem ganha e quem perde. Quem tem ou não tem razão e que na prática nos leva a que cada um continue a fazer o mesmo da mesma forma.

Todo este processo tem que levar em linha de conta, como nos refere a autora a reflexão sobre as práticas, a experiências das pessoas e no nosso caso dos Enfermeiros será fundamental para a construção do conhecimento tal qual estaremos a fazer ao longo deste ano de CCFE.

Para tal reflectir sobre práticas é antes de mais um processo com fases de onde destaco a observação “…não é conhecer…trata-se antes de reconhecer”, pág 56, a análise “desconstruir com vista a reconstruir” “pensar de novo “ pag 56 e reperpectivação. Depois de observar e analisar perspectivar como faremos como transformamos.

A autora toca ainda num aspecto fundamental em todo este processo de reflexão para a mudança e que nós enfermeiros o utilizamos diariamente, com significativos, ainda que lentos progressos a meu ver – a escrita. Esta “auxilia a observação e a reflexão porque a partir das vivências expostas no papel, é possível adquirir certa distância delas, necessária ao acto reflexivo”pág 57. A autora refere ainda a escrita das situações experiênciadas como útil para o confronto e debate de pontos de vista, sendo um processo exigente que exige esforço, mobiliza energias e tempo e é geradora de desassossego útil para o confronto connosco próprios. Julgo que acima de tudo comecei hoje aqui a perceber melhor o que se pretende com o diário de aprendizagem que vai servir de avaliação a esta cadeira.

Por fim e como corolário de toda esta perspectiva a autora dá-nos o exemplo de um trabalho realizado com professores com vista a reflexão das suas práticas profissionais, onde estes tinham que registar as suas práticas profissionais. Estas seriam analisadas a luz de um triângulo pedagógico que tinham com vértices professor, aluno e saber e as suas inter relações. Algo que no nosso caso poderíamos e deveríamos analisar com um triângulo verticalizado em enfermeiro, utente, cuidado de enfermagem….e as suas inter-relações dimensão do cuidar, do ensino/saber e da aprendizagem/conhecimentos apreendidos.

Só com um processo assente na vivência e na reflexão das práticas auto transformamos e como acaba a autora “ o que fazemos contribui para o que somos e o que somos revela-se no que fazemos “ pág . 60

Neste texto destaco mesmo a importância da escrita para a consciencialização e mudança das práticas. Ao ler este texto decidi criar este blog para que pudéssemos despertar também aqui, nas novas tecnologias (net) para a nossa capacidade de reflectir sobre aquilo que nos inquieta perdendo alguns minutos a escrevê-lo (mesmo que sob anonimato, ainda que escusado). Se o conseguirmos fazer no mundo virtual, também o podemos e devemos fazer no nosso dia-a-dia.


Uma das coisas que no meu percurso profissional mais me indignou foi perguntarem-me se em dia de GREVE se escreviam registos de Enfermagem… Saberemos para que eles servem?

4 comentários:

FILMES MARADOS disse...

"...Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade...."

Ary dos Santos em "As Portas que Abril Abriu".

Já aqui e ainda que com outra conotação o poeta referia que escrever controi a liberdade. Intenso e Belo. Sejanmos livres, sejamos seres reflexivos, construamos também a nossa liberdade a partir da escrita.

FILMES MARADOS disse...

"...Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade...."

Ary dos Santos em "As Portas que Abril Abriu".

Já aqui e ainda que com outra conotação o poeta referia que escrever controi a liberdade. Intenso e Belo. Sejanmos livres, sejamos seres reflexivos, construamos também a nossa liberdade a partir da escrita.

Anónimo disse...

A escrita “ (…) não é um mero acessório. Não é apenas um “vestígio” ou uma “pegada”; é o suporte da construção de uma caminhada.” (Hesbeen, 2006)
Tal como foi referido pelo colega, há que ter a capacidade de escrever, pois esta é uma forma de reflexão, e mais do que isso é uma forma de eternidade. O escrever conduz-nos ao confronto com nós mesmos, com as nossas práticas e obriga à reflexão, à nossa e á dos outros. E a reflexão é formação.
Em relação ao texto, gostaria de referir que o que é formador, actualmente e sempre, é a mudança. A mudança gera empreendedorismo e empreender é um processo de formação. Desta forma, saúdo esta iniciativa pela sua forma inovadora que convida à reflexão e que se pode traduzir em formação. Formação aplicada ao contexto de trabalho.

Anónimo disse...

a escrita é uma forma de confronto e defesa