domingo, 6 de janeiro de 2008

EDUCAR PARA A SAÚDE NO SEX. XXI



RODRIGUES, Manuel; PEREIRA, Anabela; BARROSO, Teresa

Estes 3 autores são Enfermeiros, e este é um artigo do livro Educação para a Saúde – Formação Pedagógica de Educadores de Saúde, edição da Formasau de 1993.

Num prefácio do actual presidente do Conselho de Administração do Hospital da Universidade de Coimbra é-nos referida a vantagem da formação de Profissionais de Saúde para os ganhos em saúde, para os avanços tecnológicos e por sermos nós actores da nossa própria acção.

Informação não é conhecimento e conhecimento sem integração num sistema de saberes não é educação” refere no prefácio pág. 7 o Prof. Fernando Regateiro. Só com formação adequada há mudança de atitudes e comportamentos.

Já no texto os autores começam por de uma forma diferente, definir saúde atribuindo-lhe uma conotação individualizada, sugerindo uma clara mudança de paradigma, chegando a afirmar que cada pessoa tem a sua noção de saúde “ A saúde de cada pessoa depende do seu projecto de vida, do seu sentido de felicidade e da sua forma específica de estar no mundo” pág. 11.

Logo, poder-se-á afirmar que o estado de saúde, qualidade de vida e quantidade de vida estão intimamente ligados às políticas de saúde seguidas - logo de correctas políticas de educação.

Então os autores dão o verdadeiro enfoque à EDUCAÇÂP PARA A SAÚDE (EPS), como um processo que envolve a comunidade na promoção da saúde e prevenção da doença.

A EPS implica uma mudança voluntária, onde o foco são as atitudes e os comportamentos de saúde.

Os autores alertam-nos para os riscos que a mensagem da EPS pode provocar, nem sempre benéficos, e causadores de efeitos múltiplos de consequências imprevisíveis. O que é certo é que ninguém muda de comportamentos por imposição. Existem geralmente 2 factores associados a mudança, a convicção e a noção de que algo é prejudicial.

“Os comportamentos de saúde podem ser vistos como resultado de interacção de factores ecológicos sociais e psicológicos e a sua influência na saúde”, “ este enquadramento exige da parte dos profissionais de saúde, visão de futuro e sentido projectivo, conciliando no decurso da sua acção os factores biológicos e os estilos de vida, mas também os factores relacionados com o ambiente físico, cultural e socioeconómico” pág. 25. Ora aqui está em todo o seu esplendor, o indivíduo, inserido na comunidade, e o Enfermeiro como o principal gestor das necessidades holísticas dos mesmos em saúde.

Os autores começam então a colocar o dedo na ferida quando afirmam que a saúde além de depender de aspectos biológicos, comportamentos e estilos de vida, ambiente e condições de vida depende também dos SISTEMAS DE SAÙDE (destacado meu).

Efectivamente, os autores enumeram uma série de programas e compromissos de saúde do estado Português em que os resultados têm vindo a piorar em vez de melhorarem. Nomeadamente nos grupos sócio económicos mais baixos. Ou seja, constatamos que somos um país cada vez com mais assimetrias, com mais precariedade de emprego, com mais desemprego, como menores salários. Ou seja as políticas sociais influenciam os resultados da EPS. Ainda para mais, e devido aos elevados ritmos laborais os pais também deixaram de ter, em alguns casos, o vital papel de educadores dos seus filhos.

Destaco em jeito de resumo a BRUTALIDADE ARREPIANTE desta frase com a qual me identifico a dieta e o tabaco são menos importantes para a saúde que o lugar em que se vive e como se ganha a vida” pág. 31. Será que os Homens e Mulheres que fazem leis já pensaram nisto?

Destaco ainda a declaração assinada pelo Estado Português, que ficou conhecida como declaração de Jakarta aqui transcrita pelos autores “as pessoas necessitam de ter paz, habitação, educação, Segurança Social, boas relações humanos, alimentação, salário e emprego, justiça social, igualdade de Direitos” pág. 31.. Estes são princípios consagrados na primeira constituição da Republica Portuguesa pós Abril de 1974, mas ainda hoje longe de alcançar. Eternizada numa música sempre actual de Sérgio Godinho.


Os autores citam-nos exemplos de EPS na área do Tabaco, Álcool, Drogas, Comportamentos Alimentares, Sexualidade e Toxicodependências.

Mais uma vez e numa clara alusão à importância da reflexão sobre o que somos e fazemos individual e colectivamente no dia-a-dia, os autores alertam que as grandes mudanças começam a partir de pequenos gestos do nosso dia .

Sobre o êxito da EPS, ela está, segundo os autores, relacionado com a multidisciplinaridade de agentes que se entrecruzam em todo este processo. Sendo, que a dispersão profissional pode trazer alguns prejuízos para o processo quando existem falhas de liderança.

Assim apontam OS ENFERMEIROS como os profissionais com o papel de maior RELEVO em todo o processo de EPS

Contudo educadores para a saúde somos todos: Profissionais de saúde, Professores, Pais, Familiares e até Pares….

Este texto acima de tudo despertou em mim, ou por outra, manteve acordado o “bichinho” da intervenção social, também vital para ganhos em saúde numa sociedade que acredito que possa ser melhor. E que efectivamente ataquemos de frente os grandes problema do país, a pobreza, as assimetrias (vidé discurso do Presidente da República no final do ano de 2007). Só depois da balança social, friso SOCIAL, não económica, estiver equilibrada poderemos com equidade promover saúde e prevenir doença.

Continuo a reflectir para intervir e educar de forma coerente e convicta (para os cépticos utópica) num o país onde a produtividade continua a estar à frente da qualidade….

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