quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

DIÁRIOS DE APRENDIZAGEM – PROMOÇÃO DA REFLEXÃO NA PRÁTICA CLÍNICA


PEREIRA, Esperança Gago Alves

Professora Coordenadora na Escola Superior de Enfermagem de Calouste Gulbenkian (ESECG) (Braga), Enfermeira especialista em reabilitação, Pós-graduada em Ciências da Educação pela Universidade de Aveiro e Mestre em Ciências de Enfermagem pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Este artigo é um resumo do trabalho de investigação da autora no referido mestrado.

A autora descreve-nos um estudo realizado com alunos do curso de bacharelato em Enfermagem da ESECG sobre a importância dos diários de aprendizagem para o processo formativo ou se quisermos reflexivo. Sobre os detalhes do estudo vou-me escusar a referir a metodologia seguida, abordando neste pequeno texto, como será natural, mais as questões expositivas e criticas dos seus princípios e resultados.

Poderia resumir o artigo ao próprio resumo da autora “ Constatamos que os diários de aprendizagem motivam o esclarecimento de ideias ou acontecimentos confusamente experienciados, já que a escrita funciona como mediador da reflexão da acção. Bem como nos sugere que as experiências significativas, surgem a partir da observação e consciencialização das acções através da reflexão e ao promover a reflexão através da experiência, também favorece a articulação entre teoria e prática”pág. 12.

De imediato me apetece parar de ler e exclamar está tudo dito.

Conjugando saberes de textos anteriores, parece-me claro. Durante o percurso formativo existem espaços teóricos e práticos, é em espaços da prática, da acção, que melhor podemos reflectir sobre algo. E este algo não é nada em abstracto, mas sim aquilo que nos marca de uma qualquer forma, que nos marca durante a essência da nossa profissão – CUIDAR. Mas afirmarei, que nos marca pessoal e profissionalmente, que nos marca quando cuidamos um doente, ou quando observamos a prática de um já “Sr. Enfermeiro”, da postura de uma equipa, da delegação de competências noutros profissionais, etc, etc. E então a melhor forma para esclarecermos o vivenciado começa por ser escrevendo-o. Como já vimos a escrita confronta-nos connosco próprios, e é neste sentido que surgem os diários de aprendizagem como forma de confronto, de uma exteriorização de dúvidas despodoradas. Mas este é um diário algo diferente daquele que na adolescência ficava guardado e trancado com uma chave. Após o momento que os escrevemos foi porque tomamos consciência de algo, processo de “conscientização” já referido por Paulo Freire, a partir daqui temos algo de material e palpável para reflectir e para mudar o que houver a mudar. Julgo que estes diários levam à mudança do eu, do outro, se quisermos de um colectivo de uma equipa.

Enquanto Enfermeiros, quantas vezes, situações surgidas em estágio com alunos nos levaram também a nós a alterar comportamentos? Julgo que muitas. Os diários de aprendizagem são pela autora abordados sempre na perspectiva de crescimento de formando e formador, extrapolando julgo que somos diariamente formandos e formadores.

E em jeito de diário de aprendizagem, por neste momento ter no meu serviço alunos em estágio, e só estar na prestação efectiva de cuidados há 4 meses, após um interregno para funções sindicais de 7 anos, ontem tive necessidade de reflectir com a responsável da formação em serviço algumas atitudes perante o aluno em estágio e os objectivos destes. Apesar de não estar directamente com nenhum, sei que serei um exemplo e ao mesmo tempo serei desafiado. Portanto durante algum tempo reflectimos, após o confronto com a realidade sobre trabalho e métodos de trabalho, pausas, objectivos. Ou seja, sem o ter escrito, também eu tive necessidade de fazer o meu próprio diário de aprendizagem para sobre ele reflectir com alguém e perspectivar formas de estar e agir na prática.

Para a autora a reflexão como processo depende:
- Auto-regulação
- Expectativas de Eficácia
- Confrontação
- Análise critica
- Mudança

“O processo de reflexão é indispensável na caminhada destes estudantes, permitindo-lhes, nos contextos de trabalho, níveis progressivos de desenvolvimento e confrontos, num processo ainda não acabado, conduzindo-os para a autonomia, o desempenho livre e responsável da sua cidadania e actividade profissional” pág. 17

Limitava-me a provocar os colegas e a plagiar a autora transcrevendo a mesma frase substituindo “…destes estudantes …” por “dos enfermeiros”. O resultado seria este:


O processo de reflexão é indispensável na caminhada dos enfermeiros, permitindo-lhes, nos contextos de trabalho, níveis progressivos de desenvolvimento e confrontos, num processo ainda não acabado, conduzindo-os para a autonomia, o desempenho livre e responsável da sua cidadania e actividade profissional.

Sim, porque o nosso desenvolvimento terá que ser dinâmico logo inacabado e a autonomia algo conquistado no dia-a-dia através num processo também ele dinâmico de certificação de competências e de capacidade de tomar decisões reflectidas e justificáveis.


Atenção ao futuro o “conceito de experiência assim, não será a simples passagem do tempo que a constroí…” pág. 14.

1 comentário:

Anónimo disse...

"Olha para o que eu faço e não para o que eu digo" assim é o provérbio típicamente Português.
Contudo, a Mestre Esperança Pereira é sem dúvida e, como nos pretende demonstrar com este "Diários de Aprendizagem-Promoção da Reflexão na Prática Clínica,uma das poucas excepções à regra pois, pratica de acordo com o que demonstra teóricamente.
É com muito gosto que corroboro com ela nesta mensagem que transmite através da escrita, uma vez que foi graças à sua insistência na redacção de diários
de aprendizagem e na reflexão da prática clínica que, também eu, como tantos outros alunos que tiveram o privilégio de conviver e ser orientados por ela nos tornamos em melhores profissionais.
Acredito francamente que muitos profissionais deveriam orientar a sua prática clínica neste sentido reflexivo pois isso iria sem dúvida melhorar a sua postura e o seu método interventivo, uma vez que lhes permitiria analisar outras formas de actuar e eliminar eventuais lacunas, pois através da reflexão o ser humano torna-se num ser que pensa e faz pensar.

Eduarda Silva